Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam curiosidades
perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de cidadãos humildes que aparecem nas delegacias como suspeitos
de pequenos crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem barracos e cortiços, e gravam sem pedir licença
a estupefação de famílias de baixíssima renda que não sabem direito o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o
vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre de fim de semana no bar da esquina. A polícia chega
atirando; a mídia chega filmando.Eugênio Bucci. Sobre ética e imprensa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.