Leitura on-line
Se a leitura é definida como “a compreensão do sentido da linguagem escrita”, então ela não será diferente no futuro do que tem sido no passado. Os olhos e o cérebro dos leitores de hoje já estão preparados para qualquer coisa que as situações de leitura do futuro possam apresentar. A diferença estará na extensão das situações em que haverá oportunidade de leitura e na variedade das respostas que serão exigidas dos leitores nessas situações. Nestes dois aspectos – da necessidade da leitura e do que se espera que os leitores realizem – as exigências sobre os leitores podem ser muito maiores do que as atuais, não sobre os olhos ou as funções cognitivas das pessoas, mas sobre suas experiências. A leitura nunca foi uma simples questão de compreender os símbolos que estão sobre o papel, mesmo quando os termos como leitura e alfabetização ficam restritos à linguagem escrita. (Todos os outros usos dos termos como “leitura do rosto” ou “alfabetização visual” são metafóricos.) A linguagem escrita já é encontrada em uma variedade de meios de comunicação – não somente no papel, mas em madeira, pedra, metal, plástico entre outros.
Razões para a leitura
Por que as pessoas vão ler on line? Exatamente pelas mesmas razões por que elas já leem – pelo prazer, pela informação, pela identificação e pela experiência. Já existe o acesso eletrônico a listas, enciclopédias, manuais e recursos científicos e profissionais, arquivos de bibliotecas, guias de entretenimento, catálogos comerciais, horários de meios de transporte, previsão do tempo, listas de bens imóveis, pronunciamentos políticos, receitas, resultados esportivos e inúmeros outros recursos além de – ou em vez de – fontes impressas. A leitura é um vício para muitas pessoas, os computadores são um vício para muitas pessoas, e a combinação da leitura com os computadores pode tornar-se irresistível, assim como muitas pessoas já estão viciadas em jogos eletrônicos ou em meditar esotericamente nas entranhas dos próprios computadores. Milhões de escritores reais ou potenciais da Internet estão contando as histórias de suas vidas, reais ou imaginárias e falando de suas esperanças e temores, verdadeiros e fictícios. Nunca houve uma linha divisória clara entre a realidade e a fantasia, o fato e a ficção, o desejo e o medo, a intenção e o ato, a observação e a participação, e as distinções podem desaparecer completamente com a escrita espontânea, com a leitura instantânea e com as perspectivas ilimitadas de assuntos e experiências na Internet. Em princípio, todos podem ler tudo e interagir com todos. A quantidade de material que poderia ser lido – e lido com utilidade – pode superar a imaginação. Mas os textos impressos têm sido produzidos com uma abundância maior do que a possibilidade de que alguém os lesse durante séculos. A tecnologia eletrônica simplesmente torna a escolha ainda maior – e a tarefa de descobrir e localizar algo realmente interessante ainda mais difícil. Assim como haverá oportunidades e até demanda de muito mais leitura, também haverá oportunidades e demanda de muito mais escrita. Haverá novos tipos de leitura? Há o hipertexto, que é uma aglomeração de textos que fica cada vez maior, sem início, meio ou fim, que você pode começar a ler em qualquer ponto, pular para novos assuntos sempre que assim o desejar e parar no momento que quiser. Não há um “caminho certo” de leitura para esse material; nunca duas pessoas o lerão da mesma maneira. Novas formas de escrita estão sempre surgindo, não somente em novos formatos de textos, mas em novas maneiras de formular perguntas e respostas, de saudações e de expressão do estado de espírito. As maneiras esperadas de relacionar-se com outras pessoas se estabelecem nas interações eletrônicas da mesma forma como ocorrem em outros ambientes sociais. E tudo o que é novo e se exige daqueles que escrevem deverá ser aprendido por aqueles que leem.
(Frank Smith. Leitura Significativa –Trad. Beatriz Neves. 1999 – Texto adaptado)